Escravidão Rural

Imagem do livro-álbum Brazil pittoresco. Fotografia de Victor Frond e litogravura de Ph. Benoist

 

No campo, o africano foi a força motriz dos canaviais e das roças de tabaco do Brasil colônia, bem como dos cafezais e algodoais na época do Império.

O escravizado do campo também esteve sempre à disposição do senhor. A dominação se estendia desde o controle sob suas vestimentas, alimentação, moradia e, até mesmo, suas relações sexuais.

Aqui, no Brasil, assim como em várias colônias, foi desenvolvida uma verdadeira engenharia para o aprisionamento e castigo dos trabalhadores escravizados: tronco, açoite, viramundo, cepo, libambo, peia, gonilha ou gargalheira, são denominações das brutalidades terríveis que, por vezes, se manifestavam, também, como pontapés no ventre de escravas gestantes, olhos vazados e dentes quebrados a martelo.

Essas violências não partiam apenas das mãos masculinas, mas também das frágeis e alvas mãos das senhorinhas.

Litografia sobre papel, Autoria de Victor Frond,1861, Coleção Brasiliana Itaú.

O trabalho de Sol a Sol (realizado cerca de 14 horas por dia), aliado à má alimentação e às más condições de descanso, transformavam o negro de campo em um verdadeiro trapo humano.

Como reação, os negros tentaram se organizar em quilombos, promover levantes ou abandonar, em massa, as fazendas, e quase sempre foram reprimidos a ferro e fogo.

“Cozinha na roça”. Fotografia de Victor Frond e litogravura de Ph. Benoist

O negro de ofício (também chamado "de partes" ou "oficial") – originado do trabalho em moendas e caldeiras, nas fábricas de açúcar do século XVI – coexistia com o negro de campo, mas ocupava um lugar ligeiramente superior na escala social. Mais tarde, surgiram negros ferreiros, marceneiros, pedreiros, seleiros, canoeiros e barbeiros e mulheres costureiras. Na primeira metade do século XIX já havia, no Rio de Janeiro, bons profissionais negros, serralheiros, ourives, sapateiros, alfaiates capazes de cortar casacas e chapeleiras, e que competiam com as francesas. Esses negros serviam ao senhor, a seus vizinhos e, às vezes, à toda comunidade. No litoral, em 1837, um escravo qualquer custava 400$000 (quatrocentos mil-réis), mas o preço de um "oficial" oscilava entre 600$000, 800$000 e um conto de réis.

O negro doméstico trabalhava como pajem, moço de recados, capanga e criado quando homem. Babá, cozinheira, mucama, doceira, quando mulher. Eles se traduziam nas "crias da casa", nos "afilhados" e nos "homens de confiança". Todos, entretanto, serviam à ostentação do senhor como símbolo de poder e riqueza. Alguns aprendiam a ler, outros, reuniam pecúlio suficiente para uma vida menos submissa. Esse tipo de negro existiu em maior número nas regiões açucareiras do Nordeste, nas minas do final do século XVIII e, no Rio de Janeiro, nos últimos anos de escravidão.

Escravos na colheita de café no Vale do Paraíba, 1882. Marc Ferrez –– Acervo IMS.

As relações de parentesco surgiram e foram fortalecidas pelos laços de parentescos e de comunidade. A consanguinidade era um fator determinante para a estabilidade do grupo, auxiliando nos enfrentamentos e lutas cotidianas e no problema da mortalidade de seus membros, em especial, das crianças.

Essas relações de parentesco não obedeciam, necessariamente, os limites jurídicos ou espaciais dos plantéis. Por essa razão, as mulheres desempenhavam um papel fundamental na comunidade como agregadoras e defensoras dessa estrutura social dentro do cativeiro, contribuindo, também, para a reestruturação ou recriação de elementos culturais da comunidade negra.


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Viviane Morais

Historiadora, graduada pela Universidade Federal do Ceará, doutora e mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Desde 2001 atua em instituições de educação, preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro.

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