Sueli Carneiro

Sueli Carneiro. Foto: Marcus Steinmeyer.

Filósofa, escritora e ativista antirracista do movimento social negro brasileiro, Aparecida Sueli Carneiro Jacoel nasceu na cidade de São Paulo, em 1950. Doutora em Filosofia pela USP e fundadora do GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra, ela é considerada uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro no Brasil.

Sueli Carneiro para matéria da revista Elle. Foto: André Seiti.

Não à toa, como uma das principais referências da discussão do feminismo negro no Brasil e das cotas raciais nas universidades brasileiras, Sueli Carneiro tem mais de 150 artigos publicados em jornais, revistas e em 17 livros relacionados a esses temas. A autora é apontada como porta voz de uma geração.

Em 1983, durante o longo processo de redemocratização do País, o governo do Estado de São Paulo criou o Conselho Estadual da Condição Feminina, porém, sem nenhuma negra dentre as suas 32 componentes.

Sueli Carneiro foi uma das lideranças do movimento criado pela radialista Marta Arruda, cuja campanha pela abertura de espaço no Conselho para o segmento do feminismo negro logrou êxito.

Em 1988, a autora fundou o GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra, primeira organização negra e feminista independente de São Paulo. Meses depois, ela foi convidada para integrar o Conselho Nacional da Condição Feminina, em Brasília.

Sueli criou o único programa brasileiro de orientação – na área de saúde – específico para mulheres negras. Semanalmente, mais de trinta integrantes do chamado “segundo sexo” foram atendidas por psicólogos e assistentes sociais. As pacientes também teriam acesso a palestras sobre sexualidade, contracepção, saúde física e mental, na sede do Instituto.

Em 2009, Sueli Carneiro produziu o estudo “Mulheres negras e poder: um ensaio sobre a ausência”, como forma de denúncia da hegemonia masculina e branca nas diferentes esferas de poder. A autora não tratava apenas da ausência pela baixa representação, falava sobre aquelas mulheres negras que, mesmo presentes na institucionalidade, foram prejudicadas por questões advindas das discriminações de raça e de gênero. A ex-ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, e a atual deputada federal Benedita da Silva estavam entre elas.

Sueli Carneiro. Foto: Arquivo pessoal / Via Alma Preta Jornalismo.

Sueli Carneiro se vale do conceito de “epistemicídio” – cunhado pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos – para abordar a tentativa de apagamento dos saberes dos povos colonizados, com ênfase nas mulheres negras, por serem parte do segmento mais oprimido desses povos. No campo dos estudos de gênero, sua produção dialoga com intelectuais e feministas negras brasileiras como Beatriz Nascimento (1942-1995), Luiza Bairros (1953-2016) e Lélia Gonzalez (1935-1994).

A autora tem sido agraciada com uma série de prêmios e homenagens: Prêmio Bertha Lutz (2003); menção honrosa no Prémio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth; Prêmio Direitos Humanos da República Francesa; Prêmio Benedito Galvão (2014); Prêmio Itaú Cultural 30 Anos (2017); Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020).

Em 2018, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro cria o selo editorial Sueli Carneiro, inaugurado com uma coletânea em sua homenagem, em reconhecimento à importância de suas ideias e atuação.

 

PUBLICAÇÕES

  • A mulher negra brasileira na década da mulher. São Paulo: Nobel, 1985.

  • Mulheres que fazem São Paulo: a força feminina na construção metrópole. São Paulo: Celebris, 2004.

  • A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

  • A cor do preconceito. São Paulo: Ática, 2006.

  • Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro, 2011. 

  • Escritos de uma vida. São Paulo: Editora Letramento, 2018. 

COAUTORIA

  • Mulher negra: Política governamental e a mulher, com Thereza Santos e Albertina de Oliveira Costa. São Paulo:  1985.


A filósofa Sueli Carneiro tece apontamentos sobre a experiência de mulheres negras na sociedade brasileira, respaldando-se em fatos históricos.

Assista “Ser mulher negra no Brasil” – Ocupação Sueli Carneiro (2021)


SOBRE A CASA SUELI CARNEIRO

A Casa Sueli Carneiro ocupa a construção onde a ativista e pensadora Sueli Carneiro viveu por 40 anos. No passado, o espaço abrigou, informalmente, inúmeros encontros entre intelectuais e ativistas do movimento negro e do movimento de mulheres negras. Atualmente, a Casa abriga, institucionalmente, expressões e linguagens orientadas pelo legado ativista-intelectual em movimento de Sueli Carneiro.

 

Referência

Sueli Carneiro. Literafro, 11 mar.2021. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/ensaistas/1426-sueli-carneiro . Acesso em: 01/07/2022.

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Carlos Ferreira

Dedicado a organizar e transformar dados em informações. Desde a infância, conectou-se com a história afro-brasileira por influência familiar e ampliou essa conexão através de pesquisas e experiências com o samba.

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