Juliano Moreira

Foto: Homenagem feita pelo Google a Juliano Moreira no dia em que ele completaria 149 anos

 

Juliano Moreira é com frequência chamado de “fundador da psiquiatria no Brasil”. O que poucos contam é que ele era negro e africano de origem. Se não foi pioneiro no ensino oficial da disciplina no país, que teve início em 1881, com Nuno de Andrade e Teixeira Brandão, Juliano Moreira foi ao menos o primeiro professor universitário brasileiro a incorporar a teoria psicanalítica no ensino da medicina, isso sem esquecer seu papel inovador no atendimento de pacientes manicomiais.


Ele nasceu em Salvador, numa família de baixa renda. Era filho de Galdina Joaquina do Amaral, que trabalhava como doméstica na casa de Luís Adriano Alves de Lima Gordilho, o barão de Itapuã, médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia. Após a morte prematura da mãe, quando Juliano tinha apenas treze anos, o rapaz foi reconhecido como filho pelo português Manuel do Carmo Moreira Jr., inspetor de iluminação pública. Com os estudos custeados pelo barão de Itapuã, seu padrinho, teve uma boa formação escolar e ainda muito jovem, em 1886, pode ingressar no curso de medicina.

Formado em 1891, aos dezenove anos, Juliano apresentou a tese Etiologia da sífilis maligna precoce. Seu desejo era ser professor como o padrinho, e em 1896 realizou o concurso para lente substituto da cadeira de moléstias nervosas e mentais. Foi aprovado em primeiro lugar. Nessa época também atuava como um dos redatores da Gazeta Medica da Bahia. A revista era uma publicação da Faculdade de Medicina da Bahia, conhecida então como Escola de Medicina Tropical, vinculada à figura de Nina Rodrigues, que defendera teses na área do darwinismo racial e estudava criminologia e alienação como sinais da “degeneração” das “raças” mestiças” no Brasil.

Mas a carreira de Juliano Moreira seguiria outro caminho, afastando-se das máximas de Nina Rodrigues. Tanto que defendeu a ideia de que a origem das doenças mentais se devia a fatores físicos e situacionais, como a falta de higiene e de acesso à educação, contrariando o pensamento racista ainda em voga no meio acadêmico.

Visando se aperfeiçoar na área, de 1895 a 1902, o jovem realizou uma série de cursos e estágios sobre doença mental na Europa.

No Brasil, como diretor do Hospital Nacional de Alienados, Juliano Moreira humanizou o tratamento dos pacientes: dividiu-os por sexo e idade e não permitiu o encarceramento dos doentes internados. Também mudou a rotina do hospital, criando atrativos para os doentes que estavam lá de passagem, como é o caso dos muitos pacientes internados por conta do excesso de álcool. Alterou, igualmente, a estrutura física do manicômio, criando laboratórios e melhoramentos no atendimento dos internados.

Juliano Moreira também realizou pesquisa na área de dermatologia, buscando comprovar como a questão racial não motivava doenças da pele. Esse era mais um preconceito da medicina praticada no Brasil

Juliano Moreira revolucionou concepções e métodos da psiquiatria no Brasil, humanizando-os também. Além disso, foi memorável seu combate ao racismo científico, que faziam muito estrago em sua área, associando loucura a mestiçagem degenerativa. Para o médico não existiria correlação possível entre cor da pele e “alienação”, como eram chamadas, com altas doses de preconceito, as doenças mentais no país.

Foto: Memorial Juliano Moreira.

Juliano Moreira, o psiquiatra negro que revolucionou tratamento de transtornos mentais no Brasil

 

Referências

Enciclopédia negra / Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz. – 1ª Ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

149º aniversário de Juliano Moreira. Google, 06 jan.2021. Disponível em: https://www.google.com/doodles/juliano-moreiras-149th-birthday. Acesso em: 28 mai.2022

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Carlos Ferreira

Dedicado a organizar e transformar dados em informações. Desde a infância, conectou-se com a história afro-brasileira por influência familiar e ampliou essa conexão através de pesquisas e experiências com o samba.

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