Itamar Assumpção
Itamar Assumpção. Foto: Homero Sergio/Folhapress.
Compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical brasileiro, Itamar de Assumpção, como foi registrado, Francisco José Itamar de Assumpção, como foi batizado e Itamar Assumpção, como ficou conhecido, nasceu em Tietê, em 1949.
Itamar vive com sua avó, em sua cidade de nascimento, até os 12 anos, onde é influenciado pela manifestação popular negra Batuques de Umbigada. Ainda na pré-adolescência, ele se muda para Arapongas no Paraná e passa a morar com os pais.
Na fase adulta, passa a integrar o GRUTA, Grupo de Teatro de Arapongas, dirigido por Nitis Jacon, onde participa de festivais de música e teatro. Encena "Arena conta Tiradentes" como personagem principal, um Tiradentes negro.
Itamar no palco. Foto: Alexandre Milito.
Na década de 70, Itamar Assumpção se muda para São Paulo, vivendo com os amigos Arrigo e Paulo Barnabé em uma república que fora berço de contribuições musicais mútuas. Sobre a cidade, Assumpção dizia:
“São Paulo é outra coisa, não é exatamente amor, é identificação absoluta”.
Em 1975, casou-se com Elizena Brigo e passou a morar na Penha, zona leste de São Paulo, trabalhando como entregador de carnês de IPTU.
Em 1980, Itamar lança seu icônico disco "Beleléu Leléu Eu", pelo selo Lira Paulistana, e assume, definitivamente, o gerenciamento independente de sua carreira, estreando nos festivais e palcos paulistanos. São apresentados, nesse álbum: experimentalismo sonoro; intersecção entre o visual (capa, encarte) e musical; performances marcadas pela teatralidade; letras complexas e intrincadas aos coros que funcionam como verdadeiros naipes de sopro.
Frame do programa Ensaio com Itamar Assumpção gravado na TV Cultura.
Já trazendo uma linguagem afrofuturista, Itamar utilizou técnicas de colagem e sobreposição de símbolos na construção da capa e do encarte.
"Nego Dito", que se popularizou em 1987, foi o personagem eternizado na figura de seu próprio criador.
Em 1981, Itamar Assumpção e a banda Isca de Polícia lançam o disco-espetáculo "Às Próprias Custas S.A.” pelo Selo ISCA. O disco foi criado e custeado pelo próprio artista.
Em 1983, Itamar conhece o casal Alice Ruiz e Paulo Leminski, realizando parcerias que podem ser vistas já em seu terceiro disco, "Sampa Midnight", lançado em 1985. Nesse disco ocorre uma mudança musical com devaneios e adaptação de poesia. Em 1988, mais parcerias se consolidam no disco "Intercontinental! Quem Diria! Era só o que faltava!!!".
Em 1988, Itamar e sua banda se apresentam pela primeira vez na Alemanha, convidados para uma série de eventos relativos ao Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil, durante a Documenta de Kassel, uma das maiores exposições de arte contemporânea do mundo. Dois de seus discos foram lançados no mercado fonográfico alemão.
Pioneiramente, em 1990, Itamar – que estava em constante busca de invenção e rompimentos – assume mais parcerias com mulheres, entre elas, Rita Lee, Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Vera Motta e outras. Além dessas parcerias, ele monta uma banda só de mulheres, as Orquídeas do Brasil, em 1994, e lança a trilogia "Bicho de 7 Cabeças".
Outras parcerias presentes no disco são Tom Zé, Jards Macalé e Paulo Leminski. Importantes intérpretes da MPB se interessam pelo trabalho de Ita, como Ney Matogrosso, Cássia Eller e Zélia Duncan.
Em 1995, Itamar lança o álbum "Ataulfo Alves - Pra Sempre Agora", em que realiza releituras de músicas de Ataulfo Alves.
Em 1998, Itamar lança o primeiro disco que também viria a ser uma trilogia: “Pretobrás I - por que que eu não pensei nisso antes?”. Ainda nesse ano, ele ganha o prêmio de melhor compositor pela Associação Paulista de Críticos de Arte, a APCA.
Em 2002, Itamar realizou um show histórico com Elke Maravilha.
Em 2003, após uma longa luta contra um câncer, Itamar tornou-se ancestral.
Mesmo após a sua partida, ainda havia trabalhos inéditos a serem descobertos. Em 2004, foi lançado o disco em parceria com Naná Vasconcelos. Em 2005, sua obra é transcrita em dois volumes de "Pretobrás - Por que que eu não pensei nisso antes?", um livro de canções e histórias de Itamar Assumpção.
Em 2010, o Selo Sesc relança toda a discografia de Itamar Assumpção, acrescentando dois álbuns, até então, inéditos, continuidades da trilogia "Pretobrás: o volume II - Maldito Vírgula", produzido por Beto Villares e o Volume III - "Devia Ser Proibido", produzido por Paulo Le Petit.
Em 2011, o diretor de cinema Rogério Velloso lança "Daquele Instante em Diante", documentário sobre a vida de Itamar Assumpção e sua trajetória na música, contendo depoimentos de pessoas com quem ele trabalhou, além de seus familiares.
Em 2013, é publicado “Cadernos Inéditos”, que reúne, em um único livro, os escritos de Itamar Assumpção: poesias, letras de música e ideias. Essa obra foi organizada pelas filhas Anelis e Serena Assumpção e por Elizena Assumpção, auxiliadas por Marcelo Del Rio, compositor e amigo da família.
Em 2014, é lançado o documentário "Reverberações", sobre a obra de Itamar Assumpção, dirigido por Claudia Pucci e Pedro Colombo.
O ano de 2019, quando Itamar Assumpção faria 70 anos, foi marcado por intensas comemorações: encontros, eventos acadêmicos e, até, um palco especial na Virada Cultural, que aconteceu na cidade de São Paulo.
Nesse mesmo ano, ocorreu a estreia de "Pretoperitamar", ópera teatral que fala da trajetória do músico por meio de atravessamentos da lógica temporal – dirigida por Grace Passô, que assinou, também, a dramaturgia, ao lado de Ana Maria Gonçalves.
Estátua
Localizada na entrada do Centro Cultural Penha com 1,80 metros de altura, a estátua de Itamar Assumpção foi feita em bronze pelo artista plástico mineiro Leandro Junior.
Inauguração da estátua de bronze do músico Itamar Assumpção, no bairro da Penha, em São Paulo.
Neste centro cultural, no Teatro Martins Penna, Ita se apresentou algumas vezes. Ele passeava pelo largo onde fica a igreja construída, em 1802, por mulheres e homens escravizados, membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Estatua do artista Itamar Assumpcao é inaugurada na zona leste de São Paulo. Foto: G1.
Nesse bairro, que é um dos mais antigos de São Paulo, ele frequentava a Sociedade Amigos de Vila Beatriz, jogava truco, bocha e gastava um tempo no bar da Jandira. Itamar chegou no bairro com sua família em 1976, e lá viveu até o final de sua vida, homenageando, na canção "Nobody Knows", esse ponto da cidade.
Referências
Disponível em: https://www.itamarassumpcao.com/sobre. Acesso em: 31/07/2022.
PANE, Peri. Itamar Assumpção ganha estátua, 6ª em honra a uma personalidade negra em SP. Folha de S. Paulo, São Paulo,16 dez.2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/12/itamar-assumpcao-ganha-estatua-6a-em-honra-a-uma-personalidade-negra-em-sp.shtml. Acesso em: 31/07/2022.
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