Milton Santos
Milton Almeida dos Santos (Brotas de Macaúbas, Bahia, 3 de maio de 1926 – São Paulo, São Paulo, 24 de junho de 2001) foi um advogado brasileiro. Apesar de ter se graduado em Direito, Milton destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da Geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970.
Milton Santos nasceu no município baiano de Brotas de Macaúbas em 3 de maio de 1926. Ainda criança, migrou com sua família para outras cidades baianas, como Ubaitaba, Alcobaça e, posteriormente, Salvador. Em Alcobaça, com os pais e os avós maternos (todos professores primários), foi alfabetizado e aprendeu álgebra e a falar francês.
Aos 13 anos, Milton dava aulas de matemática no ginásio em que estudava, o Instituto Baiano de Ensino. Aos 15, passou a lecionar Geografia e aos 18 prestou vestibular para Direito na Universidade Federal da Bahia, em Salvador. Enquanto estudante secundário e universitário marcou presença na militância política de esquerda. Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto que fez concurso para professor catedrático no Colégio Municipal de Ilhéus. Além do magistério desenvolveu atividades jornalísticas em Ilhéus, estreitando sua amizade com políticos de esquerda. Nesta época, escreveu o livro Zona do Cacau, posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da escola francesa do pós-guerra, a qual, inicialmente, era voltada para a geomorfologia e os aspectos climáticos (Pierre Birot, Jean Dresch, Jean Tricart), passando depois a buscar, gradualmente, uma apreensão global do meio físico-natural, incorporando também aspectos demográficos e a dimensão econômica, nas relações cidade campo (Pierre George).
Entre 1956 e 1958, Milton conclui seu doutorado na Universidade de Estrasburgo. Ao regressar ao Brasil, criou o Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais, mantendo intercâmbio com os mestres franceses. Após seu doutorado, teve presença marcante na vida acadêmica, em atividades jornalísticas e políticas de Salvador. Em 1961, viaja a Cuba, na qualidade de editor do jornal A TARDE, com a comitiva de Jânio Quadros, então eleito Presidente da República. Logo após ser empossado, Jânio o convida para ser subchefe da casa civil na Bahia, cargo que exerceu durante o curto mandato do presidente.
Em 1963, o governador da Bahia, Lomanto Júnior, nomeou-o presidente da Comissão de Planejamento Econômico (CPE), cargo que ele deixou em 1964. Enquanto exerceu esse cargo, Milton Santos tratou de temas de política econômica e planejamento regional, a partir de uma perspectiva científica, sem, no entanto, negligenciar seu trabalho no Laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais.
Até 1964, ano em que deixa o Brasil em razão do golpe militar, ele conduz paralelamente uma carreira acadêmica e atividades públicas. Jornalista e redator do jornal A Tarde (1954-1964), professor de geografia humana na Universidade Católica de Salvador (1956-1960), professor catedrático de geografia humana na Universidade Federal da Bahia onde cria o Laboratório de Geociências, será diretor da Imprensa Oficial da Bahia (1959-1961), presidente da Fundação Comissão de Planejamento Econômico do Estado da Bahia (1962-1964), e representante da Casa Civil do presidente Janio Quadros na Bahia, em 1961. Suas pesquisas e publicações da época focalizam as realidades locais, principalmente a capital – a tese de doutorado é intitulada O Centro da Cidade de Salvador – assim como as cidades e a região do Recôncavo.
Roda Viva Retrô | Milton Santos | 1997
Um pesquisador engajado
Em 1977, retorna ao Brasil. Passam-se dois anos antes de conseguir voltar a ensinar na universidade brasileira, primeiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro, de 1979 a 1983, ano em que ingressa por concurso na Universidade de São Paulo, professor titular de geografia humana até a aposentadoria compulsória, recebendo o título de Professor Emérito da USP em 1997 e continuando a pesquisar, publicar e orientar estudantes até o final de sua vida.Será reintegrado oficialmente à Universidade Federal da Bahia em 1995, da qual tinha sido demitido por “ausência”. Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe outorgaram o titulo de Doutor Honoris Causa.
Em 1994, recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Nesta última fase de seu percurso, publica Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978), contribuição à efervescência e ânsia de renovação dessa ciência no Brasil . O espaço é definido como uma instancia social ativa, a noção de formação sócio-espacial introduzida. As pesquisas, as aulas e as publicações resultantes tencionam um esforço epistemológico para dotar a geografia latino-americana de categorias de análise apropriadas.
Em junho de 2001, em decorrência do câncer de próstata, diagnosticado na década de 1990, o quadro da doença agravou-se e o geógrafo foi internado no Hospital do Servidor Público Estadual. Na madrugada de 24 de junho de 2001, ele faleceu aos 75 anos, apresentando um quadro grave de insuficiência respiratória aguda.
Principais obras
Os Estudos Regionais e o Futuro da Geografia (1953)
O Centro da Cidade do Salvador (1959)
A Cidade nos Países Subdesenvolvidos (1965)
Por uma Geografia Nova (1978)
O Trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo (1978)
A Pobreza Urbana (1978)
O Espaço Dividido (1979)
A Urbanização Desigual (1980)
Manual de Geografia Urbana (1981)
Pensando o Espaço do Homem (1982)
Espaço e Método (1985)
O Espaço do Cidadão (1987)
Metamorfoses do Espaço Habitado (1988)
Metrópole Corporativa Fragmentada (1990)
A Urbanização Brasileira (1993)
Técnica, Espaço, Tempo (1994)
A Natureza do Espaço (1996)
Por uma Outra Globalização (2000)
Território e Sociedade (2000)
Referências
Milton Santos. Biografia. 2011. Disponível em: http://miltonsantos.com.br/site/biografia/ . Acesso em: 06/06/2023.
Milton Santos. 24 jul. 2009. Disponível em: https://www.geledes.org.br/milton-santos/# Acesso em: 06/06/2023.
Milton Santos. Disponível em: https://unifei.edu.br/personalidades-do-muro/extensao/milton-santos/. Acesso em: 30/06/2023