Carolina Maria de Jesus

Foto: Acervo IMS

 

Carolina Maria de Jesus nasceu em 14 de março de 1914, no município de Sacramento, no interior de Minas Gerais. Em sua cidade natal, estudou até o segundo ano primário, no Colégio Allan Kardec, o primeiro colégio Espírita do Brasil. Ela se via obrigada a trabalhar desde criança, e se dizia descendente de pessoas escravizadas.

Carolina no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), em 1961, antes de embarcar para o Uruguai. Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo.

Na adolescência, Carolina acompanhou a mãe nas mudanças que a família precisou realizar, passando por diferentes cidades do interior de São Paulo, nas quais ganhou seu sustento trabalhando em casas de família. Em 1947, ela foi viver em São Paulo, trabalhando como empregada doméstica, auxiliar de enfermagem e como artista de circo.

Foi na casa do médico Euríclides Zerbini que teve acesso, pela primeira vez, a uma biblioteca. No entanto, engravidou em 1948 e perdeu o emprego – foi, então, morar na favela do Canindé, onde nasceu João José –. Dois anos depois, teve José Carlos e, logo a seguir, Vera Eunice. Sozinha e com três filhos para criar, suas dificuldades aumentaram. No dia 15 de julho de 1955, Carolina Maria de Jesus começou a escrever um diário, no qual anotava suas reflexões e pensamentos. Costumava dizer que foi o lixo que lhe trouxe o sustento da família e, também, uma caderneta.

Carolina Maria de Jesus. Reprodução: Instagram.

Somente em abril de 1958, – designado pelo jornal Folha da Noite a fazer uma reportagem sobre a realidade da favela do Canindé – , o jornalista Audálio Dantas conheceu Carolina e tomou conhecimento de seus escritos.

Em meio à múltipla produção literária, de diferentes gêneros, o jornalista se interessou apenas pelos diários. Entusiasmado com a riqueza dos detalhes narrados nesses diários, Audálio Dantas prometeu a Carolina que viabilizaria a publicação de um livro.

Carolina Maria de Jesus e Ruth de Souza na Favela do Canindé. São Paulo, 1961. Foto: Acervo Ruth de Souza.

Capa da edição lançada na Alemanha sob o título: "Tagebuch der Armut...". Hamburg: Chrstian Wegner Verlag, 1963.

Em 1960, Carolina Maria de Jesus experimentou a fama instantânea com a publicação de seu primeiro livro "Quarto de Despejo – o diário de uma favelada". Tal repercussão ocorreu, principalmente, pelos retratos das condições de vida dos menos favorecidos.

A questão do relato testemunhal foi fundamental para o sucesso da obra. Nessa época, Carolina recebia o equivalente a 10% do valor de capa, e Audálio Dantas, 5%, acordo esse que anos depois foi contestado pela família.

Carolina também é autora de "Casa de Alvenaria: diário de uma ex-favelada" (1961), "Pedaços da Fome e Provérbios" (1963) e "Journal de Bitita", livro de memória póstuma, publicado na França em 1982, e lançado no Brasil pela Editora Nova Fronteira, em 1986, sob o título "Diário de Bitita". Esse livro resulta da divulgação de dois cadernos de manuscritos autobiográficos entregues por Carolina, em 1975, às jornalistas francesas Clélia Pisa e Maryvonne Lapouge, que vieram ao Brasil para entrevistar mulheres de destaque.

Em um grupo de 26 mulheres selecionadas pelas jornalistas, Carolina era a única negra. Além dos livros publicados, ela também lançou um disco, em 1961, em que interpreta suas composições.

Carolina Maria de Jesus morreu em 13 de fevereiro de 1977, no seu sítio em Parelheiros, São Paulo/SP.

A autora teria novo reconhecimento no Brasil apenas postumamente, com a reedição de sua obra e exposições, revelando imagens de Carolina e originais, ainda, inéditos.


Referências

Enciclopédia negra / Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz. – 1ª Ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

GARCIA, Eliana. Carolina Maria de Jesus: a escritora sacramentana que conquistou o mundo. Cultura Sacramento, Sacramento, 17 dez.2021. Disponível em: https://culturasacramento.com.br/carolina-maria-de-jesus-escritora-sacramentana-que-conquistou-o-mundo. Acesso em: 31/08/2022.

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Carlos Ferreira

Dedicado a organizar e transformar dados em informações. Desde a infância, conectou-se com a história afro-brasileira por influência familiar e ampliou essa conexão através de pesquisas e experiências com o samba.

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