Marielle Franco

A vereadora do Rio Marielle Franco, assassinada em 2018. Foto: Reprodução.

[...] nós somos violadas e violentadas há muito tempo e muitos momentos. Nesse período, por exemplo, onde a intervenção federal se concretiza na intervenção militar, eu quero saber como ficam as mães e familiares das crianças revistadas. Como ficam as médicas que não podem trabalhar nos postos de saúde. Como ficam as mulheres que não têm acesso à cidade? Essas mulheres são muitas. São mulheres negras; mulheres lésbicas; mulheres trans; mulheres camponesas; mulheres que constroem essa cidade, onde diversos relatórios – queiram os senhores ou não- apresentam a centralidade e a força dessas mulheres, mas apresentam também os números que o (The) Intercept publicou do dossiê de lesbocídio que, no ano de 2017, houve uma lésbica assassinada por semana (…)
— (Último pronunciamento de Marielle Franco, em Sessão Plenária, no dia 08 de março de 2018.)

Marielle Franco em sessão da Câmara do Rio de Janeiro em maio de 2017 Foto: Reprodução/Facebook

Marielle Francisco da Silva, filha de Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto, irmã de Anielle Franco, mãe de Luyara Santos, companheira de Mônica Benício.

Nascida em 27 de julho de 1979, de família paraibana, nunca escondeu sua origem favelada. Costumava contar sobre sua vida na favela. As amizades, as brincadeiras na rua, as fugas para bailes funk, o deslocamento com o carrinho de bebê por becos e vielas, os desvios de tiroteios e outras histórias que se desenrolaram em várias localidades em que morou com sua família, na Maré, um conjunto de 16 favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro. 

Estudou em escolas públicas na região, frequentou o grupo jovem da igreja católica e o cursinho Pré-Vestibular Comunitário da Maré. Fundado em 1997, por ex-moradores, o Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM) tinha o objetivo de estimular o ingresso de jovens da região nas universidades. Marielle fez parte da primeira turma de estudantes desse cursinho. E, mesmo interrompendo os estudos pra se dedicar à gestação, foi alí que iniciou sua militância em Direitos Humanos, após perder uma amiga vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes.

No ano seguinte ao nascimento da filha voltou a estudar. Sendo aprovada no curso de ciências sociais da PUC/RJ, em 2002. Fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense onde defendeu a dissertação “UPP: a redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”. Um estudo sobre a política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro entre os anos 2008 e 2013.

Foi vendedora ambulante, dançarina, empregada doméstica e educadora infantil. Em 2006, Marielle integrou a equipe da Comunidade da Maré que fez campanha para o deputado Marcelo Freixo, considerado seu o padrinho político. Em 2016 é eleita vereadora pelo PSOL com 46.502 votos, aos 37 anos. Foi a quinta parlamentar mais votada da cidade e a segunda mulher com mais votos. 

Durante o mandato, a socióloga presidiu a Comissão da Mulher da Câmara, coordenou, junto com Marcelo Freixo, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ao longo do período em que atuou como vereadora apresentou 16 projetos de lei, especialmente pensados em políticas contra as desigualdades e pelos direitos das mulheres, do povo preto, da favela, das LGBTs e de todas que viviam qualquer forma de opressão. 

Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.
— Marielle, citando a ativista norte-americana Audre Lorde no evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, minutos antes de ser assassinada.

Marielle Franco na Praça Afonso Pena, em 19/10/2016. Foto:  Wikimedia Commons.

Em 14 de março de 2018, por volta das 21h30, ao voltar de um evento localizado na Casa das Pretas, no bairro da Lapa, acompanhada de sua assessora, o carro em que estava foi alvejado matando Marielle Franco e o motorista Anderson Pedro Gomes. 

No dia seguinte à execução dos dois, milhares de pessoas vão às ruas do centro do Rio de Janeiro e de outras capitais do Brasil, cobrar por respostas. Além de homenagens pelo país e pelo mundo e no Congresso Nacional.

Em maio desse mesmo ano, alguns dos principais Projetos de Lei escritos por Marielle Franco foram postos em votação foi numa sessão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Entre eles: Espaço Coruja, Campanha Permanente contra Assédio no Transporte Público, Dia Tereza de Benguela, Dossiê da Mulher Carioca, Tribuna Marielle Franco e Efetivação de Medidas Socioeducativas. Aprovados em agosto de 2018, após mobilização 13 mil pessoas para que os vereadores aprovassem os PLs e garantissem que a jornada da Vereadora, por uma sociedade mais justa, não fosse em vão.

Em 22 de outubro de 2018, Dona Marinete, Seu Antônio, Luyara e Anielle Franco fundam o Instituto Marielle Franco para seguir preservando sua memória, defendendo suas lutas e multiplicando seu legado por justiça.

Após o assassinato de Marielle, sua família e amigas decidiram transformar sua dissertação em um livro com o mesmo título. Um audiolivro, de autoria de Audrey Furlaneto, que narra a história da socióloga, ativista social e vereadora, que sempre se apresentava como mulher, negra, mãe, socióloga e cria da Maré, foi publicado em 2023.

Marielle, Presente! Uma entrevista exclusiva inédita com Marielle Franco


Referências

Instituto Marielle Franco (https://www.institutomariellefranco.org/), Linha do Tempo: https://casomarielleeanderson.org/linha-do-tempo. Acessado em 10/07/2023.

“Quem foi Marielle Franco? Conheça a sua história”, artigo publicado por Caroline Yumi Matsushima Hirano, em: Politize! (https://www.politize.com.br/quem-foi-marielle-franco/ ). Acessado em 10/07/2023.

“Mulher, negra, mãe e cria da favela: a trajetória e o legado de Marielle Franco.”, artigo publicado em: Carta Capital, em 14/03/2023.  (https://www.cartacapital.com.br/politica/mulher-negra-mae-e-cria-da-favela-a-trajetoria-e-o-legado-de-marielle-franco/). Acessado em 10/07/2023.

Angela Arruda, Karina Abrahim, Anderson Penavilla de Oliveira, Renata Queiroz Ramos e Hakumi Mori. O assassinato de Marielle Franco: olhar psicossocial sobre polarização em um recorte do pensamento social. In Revista Scielo Brasil. Disponível em https://doi.org/10.1590/1807-0310/2022v34253657

 
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Carlos Ferreira

Dedicado a organizar e transformar dados em informações. Desde a infância, conectou-se com a história afro-brasileira por influência familiar e ampliou essa conexão através de pesquisas e experiências com o samba.

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