Geraldo Filme

 

Geraldo Filme por Ocasião de seu Depoimento no MIS em 27.05.81. Foto: Acervo MIS.

Geraldo Filme, nome artístico de Geraldo Filme de Souza, foi um compositor, cantor e militante negro brasileiro, nascido no município de São João da Boa Vista, no interior paulista, em 1928.

Geraldo foi criado no bairro dos Campos Elíseos, em São Paulo. Talvez por isso, no depoimento legado, tenha afirmado que nasceu na capital do estado, em 1927.

Sua mãe era dona de uma pensão nos Campos Elíseos e fazia marmitas que eram entregues por ele, pela região. Ainda menino, Geraldo aproveitava o tempo livre para visitar o bairro vizinho, a Barra Funda, onde frequentava as rodas de samba e tiririca (capoeira) que os carregadores improvisavam, no largo da Banana.

Documentário de Carlos Cortez (1998) sobre Geraldo Filme. Reprodução: Carta Capital.

Nas primeiras décadas do século XX, o samba de São Paulo era predominantemente rural e caracterizava-se pelo peso dos instrumentos de percussão, os quais se sobressaiam o bumbo e a zabumba. Os desfiles carnavalescos, em São Paulo, tinham muitas singularidades. Um bom exemplo é a importância dos cordões em vez de escolas de samba, que eram mais raras. Geraldo foi socializado nesse ambiente e, com dez anos, compôs seu primeiro samba: “Eu vou mostrar”.

É possível dizer que a música fazia parte de sua família: a avó o introduziu nos cantos de negros e negras, que tiveram imensa influência em sua formação musical; seu pai era um violinista conhecido; e sua mãe, dona Augusta, era cofundadora do cordão carnavalesco Paulistano da Glória, primeiro cordão formado apenas por mulheres negras, que no futuro se transformara na Escola de Samba Paulistano da Glória.

Grande pesquisador da história da cidade, Geraldo compôs o samba “Tebas”, que conta a origem desse termo, cujo significado é “o bom” ou “o melhor” – e que os paulistanos empregavam muito no século XX –. Ele também aludia ao primeiro arquiteto negro da cidade: Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), que levou o apelido de Tebas.

Geraldo Filme e Clementina de Jesus.

Inicialmente, Geraldo compunha samba-enredos para o Cordão Carnavalesco Paulistano da Glória. Mais tarde, participou da transformação do bloco em escola de samba, sendo um de seus fundadores. Ex-diretor de carnaval da Escola de Samba Colorado do Brás, ele também foi campeão pela escola Vai-Vai com o samba-enredo “Solano, vento forte africano”, em homenagem ao poeta Solano Trindade. Por essa época, atuou, também, como diretor da escola.

No ano de 1974 o escritor e dramaturgo Plínio Marcos produziu o LP “Nas Quebradas do Mundaréu”, lançado pela gravadora Continental, no qual figuram, como intérpretes e compositores, Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro.

Em 1975, Clementina de Jesus ganhou o prêmio de “Melhor Intérprete” no “Festival Abertura”, da TV Globo, com a composição “A morte de Chico Preto”, de autoria de Geraldo Filme.

Em 1980, aos 52 anos, ele lançou, pela Eldorado o primeiro LP, “Geraldo Filme”, que contou com textos do teatrólogo e escritor Plínio Marcos e gravou várias de suas composições, tais como “São Paulo, Menino Grande”, “Silêncio no Bexiga”, “Vai no Bexiga pra Ver”, “A Morte de Chico Preto”, “Vai cuidar da tua vida”, “Reencarnação”, “Vamos balançar” e “Garoto de pobre”, entre outras, de sua autoria, interpretando, também, “Tristeza do sambista”, de Osvaldo Arouche e Walter Pinho.

Mais tarde, em parceria com Plínio Marcos, Geraldo montou o espetáculo “Balbina de Yansã” e um musical de grande sucesso, “Pagodeiros da Paulicéia”. Nessa época, junto a Osvaldinho da Cuíca, Germano Mathias e Tobias da Vai-Vai, entre outros, ele participou de um documentário em homenagem ao compositor Geraldão da Barra Funda (Geraldão da Vai-Vai).

O Canto dos Escravos

No ano de 1982, Geraldo Filme gravou o LP “Canto dos escravos”, com Tia Doca e Clementina de Jesus, disco no qual foram interpretados cânticos dos escravos de Minas Gerais, recolhidos pelo pesquisador Aires da Mata Machado Filho, e lançado pela gravadora Eldorado.

Capa do disco “O Canto dos Escravos”, com Clementina de Jesus, Doca e Geraldo Filme.

Geraldo foi fundador da Escola de Samba Unidos do Peruche, para a qual compôs o samba-enredo “Samba de bumbo de Pirapora”. Para o amigo e compositor da escola, Pato N'Água, no dia de sua morte, compôs “Silêncio no Bexiga”. A música fez parte do CD “Beth Carvalho canta o samba de São Paulo, volume I”, lançado pela gravadora Velas, em 1994.

Nos seus últimos anos de vida, Geraldo trabalhou na organização do Carnaval de São Paulo, tornando-se referência para a cultura negra da cidade.

O compositor faleceu em São Paulo, no dia 5 de janeiro de 1995.

 

Criação em argila da estátua do sambista Geraldo Filme, reproduzida em bronze e instalada no bairro da Barra Funda, em São Paulo. Foto: Arquivo pessoal.

Estátua
Geraldo Filme tem essa homenagem localizada na Praça David Raw, ao lado do Memorial da América Latina. Antes do memorial ser construído, ela ficava no Largo da Banana, um dos berços do samba paulista. A obra, de bronze com pátina verde, tem aproximadamente 1,80 metros de altura e 59 centímetros de largura, e foi feita por Newton Santanna.


Referências


Enciclopédia negra / Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz. – 1ª Ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

Geraldo Filme. Disponível em: https://dicionariompb.com.br/artista/geraldo-filme/. Acesso em: 04/08/2022.

Estátua do sambista e compositor Geraldo Filme é inaugurada na Barra Funda. G1, São Paulo, 21 abr.2022. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/04/21/estatua-do-sambista-e-compositor-geraldo-filme-e-inaugurada-na-barra-funda.ghtml.  Acesso em: 04/08/2022.

Um dos propósitos do Afrofile® é manter vivo e amplificar o conhecimento da história afro-brasileira para todos.
— Afrofile
 
 
Carlos Ferreira

Dedicado a organizar e transformar dados em informações. Desde a infância, conectou-se com a história afro-brasileira por influência familiar e ampliou essa conexão através de pesquisas e experiências com o samba.

Anterior
Anterior

Emicida

Próximo
Próximo

Itamar Assumpção