Monumento à Independência do Brasil (São Paulo - SP)

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Foto: Igor Rando, Wikipédia / Vista aérea do Monumento à Independência.

 

O fato de que o Monumento à Independência é um dos mais importantes símbolos da história oficial do Brasil colonial, é sabido. Agora, a informação que esse monumento, como todos os grandes símbolos da história oficial brasileira, é o resultado de intenções e objetivos para perpetuar apenas uma versão dessa história, poucos sabem.

Em 1917, o Governo do Estado de São Paulo organizou um concurso aberto à participação de artistas brasileiros e estrangeiros para a apresentação de projetos representando a independência brasileira.

Uma exposição de maquetes foi montada no Palácio das Indústrias, centro de São Paulo, na qual venceu o projeto do artista italiano Ettore Ximenes (1855 – 1926), mesmo sem a aprovação unânime da comissão julgadora.

A comissão alegou a ausência de elementos brasileiros mais representativos do acontecimento em si, exigindo do artista que incluísse, em seu projeto, alguns episódios e personalidades vinculados ao processo da independência, como a Inconfidência Mineira (1789), a Revolução Pernambucana (1817), e personagens como José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 – 1838), Hipólito da Costa, Diogo Antonio Feijó e Joaquim Gonçalves Ledo, principais articuladores do movimento.

No entanto, nessa inclusão do que seria “representativo” desse momento de luta do povo considerado brasileiro, fica clara a exclusão que se perpetuou na história oficial da população negra.

Foto: Igor Rando, Wikipédia / Monumento à Independência e Riacho do Ipiranga

É impossível contar a história do 7 de setembro sem os bastidores dos movimentos negros daquela época que, além da lutarem pela liberdade deste território perante o domínio de Portugal, exigiam, também, a liberdade do principal povo que era considerado “braços e pernas” de seus senhores.

Para o movimento negro da época, o Brasil tinha que se tornar um País livre, em todos os sentidos, um País livre para todos.

Esse grito do povo negro começou muito antes do grito dado por Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga. A população africana escravizada já lutava por sua emancipação e pela emancipação do Brasil desde antes da Conjuração Baiana, que também não foi retratada no Monumento à Independência. O movimento causou medo na elite brasileira devido ao grande número de negros organizados à sua frente, sendo duramente reprimidos e tendo seus principais líderes assassinados, na Bahia.

Sobretudo, a Conjuração Baiana é intensamente comemorada, em cada 2 de julho de todos os anos, pelos que descendem do ‘Partido Negro’, em Salvador.

Os negros escravizados da África, os escravizados nascidos no Brasil, os africanos libertos, os filhos mestiços pobres e livres, todos se mobilizaram a favor da independência. Todos tiveram representantes à frente do movimento do País.

Essa imagem, cautelosamente escolhida e exaltada pela elite branca de um ideal de independência, ignora todos os movimentos da população negra do Brasil colônia pela emancipação. A imagem concretiza o preconceito, as injustiças e o descaso com uma parcela importante da história popular, das reivindicações e revoltas iniciadas pela população negra, cujos fatos não estão registrados à vista de seus descendentes, hoje – e vivem abafadas, silenciadas e invisíveis sob o solo deste território, sobre o qual transitamos diariamente –.

Foto: Igor Rando, Wikipédia / Monumento à Independência.

Durante a segunda metade do século XIX, vários projetos foram efetuados para transformar o sítio em monumento comemorativo da Independência do Brasil. A Câmara de São Paulo, preocupada em resolver este problema, instituiu, em 1875, uma comissão que qualificou, em 1882, Tommaso Gaudenzio Bezzi para ser o autor do projeto do Museu do Ipiranga. O concurso para a execução das obras do edifício foi vencido por Luigi Pucci, e sua construção se iniciou em 1885. O Parque da Independência passou, desde então, por várias remodelações até ganhar o aspecto que apresenta atualmente. Em sua área existem, além do edifício do museu, um belo jardim, o Monumento à Independência, a Casa do Grito, um viveiro de plantas, Museu de Zoologia e ampla área arborizada.

O Monumento à Independência é considerado um dos maiores grupos escultóricos em bronze da América Latina. O conjunto é tombado pelos três órgãos de proteção ao patrimônio: o federal Iphan, o estadual Condephaat e o municipal Conpresp.

Número do Processo: 08486/69

Resolução de Tombamento: Resolução de 02/04/1975

Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 95, p. 12, 04/04/1975

 

Referências

Monumento à Independência. Governo do Estado de São Paulo. São Paulo. Conheça SP. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/monumentos/monumento-a-independencia/ Acesso em: 17/11/2022.

Parque da Independência. Conselho de Defesa do Patrimônio histórico arqueológico artístico e turístico do Estado de São Paulo. São Paulo. Bens Tombados. Disponível em: http://condephaat.sp.gov.br/benstombados/parque-da-independencia-2/ Acesso em: 17/11/2022.

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Trajeto até o local

 
 

Viviane Morais

Historiadora, graduada pela Universidade Federal do Ceará, doutora e mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Desde 2001 atua em instituições de educação, preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro.

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